Durante muitos anos, o amálgama de prata foi a restauração dentária mais comum no mundo. Apesar de bastante eficiente, foi proibido em 2019 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
E mesmo que não tivesse sido proibido, teria perdido espaço drasticamente para as resinas, materiais esteticamente mais bonitos e agradáveis ao olhar: As novas donas do pedaço.
Mas não é só isso. Devido à sua composição, a restauração de amálgama figura o centro de uma polêmica. Afinal, elas fazem mal à saúde? A partir desta indagação, outras surgem. Por exemplo: Quem tem restauração de amálgama deve substituí-la?
Neste artigo você descobre porque a amálgama dentária está em xeque, além de obter as respostas para as questões acima propostas. Acompanhe e não deixe de entender mais sobre elas.
O que você vai conferir!
A restauração de amálgama de prata
Toda a polêmica que envolve o amálgama de prata começa na sua composição. O material restaurador, de uso consagrado pela Odontologia há muitos anos, é um composto resultante da mistura de mercúrio, prata, estanho e cobre. Pode conter, ainda, índio, zinco, platina e/ou paládio, dependendo do fabricante.
Devido à presença do mercúrio, a utilização desse componente na Odontologia tem sido bastante discutida ao longo dos últimos anos. Uma vez que o mercúrio é um metal pesado e extremamente tóxico.
Apesar da tendência mundial de banir o uso do amálgama de prata devido à toxicidade do mercúrio para a saúde humana e para o meio ambiente, assim como foi feito no Brasil, não há evidências científicas sobre isto.
Até o momento, entende-se que a quantidade de mercúrio utilizada na restauração de amálgama é muito pequena para comprometer a saúde do paciente. O perigo maior encontra-se no seu descarte, o que, inclusive, requer o gerenciamento de resíduos químicos adequado. O amálgama de prata apresenta fortes evidências científicas de sucesso clínico em restaurações de dentes com lesões cariosas.
Portanto, sua eficácia, eficiência, custo e benefício, especialmente pensando em grande escala, ou seja, na saúde pública brasileira, desempenhou, durante anos, importante papel nas restaurações posteriores intracoronárias.
Sua eficiência foi, inclusive, declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2009. Na ocasião, o órgão declarou que, apesar da busca cada vez maior pelos materiais estéticos, nenhum deles substitui satisfatoriamente o amálgama de prata.
Devo trocar as minhas restaurações de amálgama de prata?
Como vimos, apesar de toda polêmica que envolve o composto, não há evidências científicas que justifiquem o banimento da amálgama de prata de seu uso odontológico. Além disso, a OMS declarou que não há restauração mais eficiente do que ela até o momento.
Entretanto, vivemos na era das selfies. Nunca a estética foi tão amplamente comercializada por meio de procedimentos os mais diversos possíveis. É notório que as resinas utilizadas atualmente, devido à coloração igual as dos dentes, provoca um resultado final muito mais bonito.
A par deste cenário, muitos dentistas afirmam que não há a necessidade de trocar a restauração de amálgama pelas resinas, a não ser, claro, que o comprometimento estético seja realmente um incômodo muito grande para a pessoa. Ainda assim, é importante avaliar bem.
Principalmente porque as margens da restauração podem ficar comprometidas em virtude das alterações de temperatura e umidade do meio bucal. O sistema adesivo, que mantém o material grudado no dente, também pode ficar comprometido e, com isso, gerar micro fendas entre a restauração e o dente.
Mesmo que sejam fendas minúsculas, esse fato já é suficiente para o aparecimento de cárie redicivante, ou seja, aquela que aparece por baixo do material restaurador e cujo diagnóstico passa, muitas vezes, batido no exame clínico.
Importante ressaltar, também, a diferença entre a longevidade dos amálgamas e das resinas. As primeiras duram bem mais. As resinas necessitam, ainda, de revisões frequentes tanto por meio de sondagem das margens, como por meio de exames radiológicos periódicos.
Logo, é preciso ser um paciente nota dez no quesito higiene bucal. A troca também não é indicada para pessoas com problemas periodontais.
Como cuidar bem dos dentes e manter uma higiene bucal perfeita.
O que são as resinas?
As resinas são compostos que podem ser compactáveis, fluidos, com macro ou nano partículas, usados em vários incrementos ou, nos casos das resinas denominadas bulk fill, em incrementos únicos de até 4mm de espessura.
Geralmente, são apresentadas em formas de seringas e variam de cor e de opacidade, de acordo com a sua indicação. Existem resinas de dentina, de corpo, de esmalte, translúcidas e de cores variadas, inclusive específicas para dentes que sofreram processos de clareamento dental.
Essa variedade de cores resultou no desenvolvimento de técnicas de trabalho específicas para a execução de restaurações extremamente estéticas. Nestes casos, o dentista consegue mimetizar a estrutura dental sadia.
A evolução desses materiais também aparece na capacidade de polimento superficial do material e consequente diminuição da pigmentação de superfície. O acréscimo de partículas de carga menores (nano partículas) permite que seja usado em restaurações anteriores e posteriores, conferindo a resistência necessária durante a mastigação.
Seria injusto dizer que os benefícios da resina são somente estéticos. Uma de suas vantagens é que não necessita desgastar a estrutura sadia do dente para ser aplicada – e isso significa um grande avanço proporcionado pela sua tecnologia. O preparo cavitário para as resinas é conservador, quase sempre restrito à área acometida pela lesão (cariosa ou não).
Além disso, enquanto o amálgama precisa de retenção mecânica para ficar no preparo cavitário, as resinas são, literalmente, grudadas no dente. Nesse processo, a utilização de ácidos na superfície cria porosidades que vão receber um adesivo e em seguida as camadas das resinas compostas.
Como a restauração de amálgama é colocado no dente?
Agora que entendemos o processo de colocação das resinas, vamos ressaltar como se dá a colocação do amálgama de prata. Esta restauração precisa ser contida na cavidade dental, ou seja, nos preparos cavitários, por meio de retenção mecânica.
Sendo assim, alguns fatores devem ser observados para que o material permaneça na posição correta e, enfim, obture a cavidade. São eles: A altura da cavidade, a forma das caixas para acondicionamento do material e a condensação mecânica da pasta obtida após manipulação, dentre outros passos clínicos.
Ao contrário do que acontece com a resina, esse material necessita da criação de um espaço que o acomode e, muitas vezes, esse processo passa pelo desgaste de estruturas saudáveis do dente e, também, de áreas de reforço dental, como é o caso do rompimento de cristas e pontes de esmaltes para a confecção do preparo cavitário.
Apesar disso, vale dizer que, por ser um metal em meio úmido, o produto gerado por sua “corrosão” no meio bucal é capaz de proteger as restaurações de processos cariogênicos recidivantes, por meio de um selamento da interface dente/restauração.
Ou seja, essa “corrosão” que o amálgama produz impede que fendas se formem entre a restauração e o dente, evitando que os ácidos produzidos pelas bactérias cariogênicas desmineralizem tecido sadio.
Mesmo sendo um material bastante resistente e de grande durabilidade, a restauração de amálgama, se não passar por um polimento de superfície e avaliação de integridade das margens do material, poderá ter a ponta quebrada em decorrência das forças mastigatórias. Esse cenário favorece a ação bacteriana.
Além disso, com o passar dos anos e ao sofrer inúmeras alterações de umidade, pode ter uma expansão tardia, a qual pode fraturar o dente, ao mesmo tempo em que mantém inalterada a restauração.
Proibição da restauração de amálgama pela Anvisa
O amálgama foi proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 1º de janeiro de 2019 por meio da RDC nº 173. Desde então, o órgão não autoriza a comercialização, a fabricação ou a importação do material, uma vez que o mercúrio em pó, componente dessa liga metálica.
Entretanto, segundo estudos que comparam, através de biomarcadores, a quantidade de mercúrio na corrente sanguínea, a presença de mercúrio foi assim constadada:
- Em pacientes com amálgama = 0,7μg/ml
- Em pacientes sem amálgama =0,3μg/ml
- Por ingestão, sendo uma refeição por semana contendo alimentos marinhos = 2,3 a 5,1μg/ml.
Isso demonstra que o maior risco de contaminação do mercúrio para a saúde provém do consumo de peixes e não da presença do amálgama de prata na boca.
Cuidados com o material na hora da troca
Se o paciente optar em substituir a restauração de amálgama de prata pelas resinas compostas, alguns cuidados devem ser observados durante e após o procedimento. Conheça alguns deles:
- Fazer uso de alta sucção durante a remoção de uma restauração e utilizar brocas novas e água gelada para este procedimento
- Utilizar da menor relação possível de mercúrio na liga. Uma das soluções para minimizar a quantidade de mercúrio nos resíduos de amálgama seria utilizar ligas esféricas com alto teor de cobre, que requerem menor quantidade de mercúrio para a confecção de um amálgama dentário de qualidade
- Usar isolamento absoluto para evitar queda de amálgama na cavidade bucal, levando-se em consideração que a mucosa do assoalho da cavidade bucal é altamente permeável
- Mercúrio, amálgama ou qualquer equipamento usado com amálgama nunca devem ser aquecidos
- O uso de soluções desinfetantes à base de mercúrio deve ser eliminado
- As clínicas e os locais de manuseio devem ser bem ventilados
- O mercúrio deve ser armazenado em recipientes fechados e inquebráveis longe de qualquer fonte de calor, sob selo d´água e com rótulo padronizado com o símbolo de substância tóxica, acrescidos da expressão: “Resíduo Químico”
- A remoção do excesso de mercúrio antes da condensação deve ser evitada
- Amalgamadores com redoma de proteção devem ser usados
- Jatos de água e sugadores de alto volume devem ser usados quando se remove restaurações de amálgama ou durante o polimento/acabamento de restaurações novas
- A pele acidentalmente contaminada pelo mercúrio deve ser lavada cuidadosamente com água e sabão
Outros fatores
- A utilização de ar condicionado deve ser sempre na posição de renovação do ar
- O uso de condensadores ultrassônicos de amálgama deve ser evitado
- Deve-se fazer uso de amalgamadores mecânicos seguros, que não apresentem vazamentos de mercúrio. O amalgamador deve ficar guardado em local isento de calor, longe do Forno de Pasteur, Autoclave e distante do aparelho de ar condicionado, para evitar a formação e dissipação dos vapores de mercúrio. Cuidados especiais deverão ser tomados no momento de usar o amalgamador, evitando acidentes
- A cápsula deve ser rosqueada, substituída de tempo em tempo para evitar escapamento de mercúrio. A sua fixação deve ser perfeita
- No caso de suspeita de vazamento pode ser colocada uma fita adesiva envolvendo a cápsula. Após trituramento, deve-se observar se há vestígios de mercúrio na fita. Remove- se a cápsula após a parada completa do motor
- O resíduo de amálgama deve estar isento de algodões, gazes, palitos, lâminas de matriz de aço e quaisquer outros tipos de contaminante
- Os frascos que contém o mercúrio, bem como a tampa, devem ser enviados para o laboratório de reciclagem
- Qualquer material descartável contaminado com mercúrio ou amálgama deve ser colocado em saco selado de polietileno
- As cápsulas devem ser estocadas e encaminhadas para recuperação
- Os recipientes específicos para descarte de material não devem ser preenchidos acima do limite de 2/3 de sua capacidade total e devem estar localizados sempre próximos do local onde é realizado o procedimento.
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