Não é novidade para ninguém que o câncer é o principal problema de saúde pública no mundo. Mas você sabia que a odontologia em pacientes com câncer pode ajudar a reduzir os riscos de complicações orais?
É exatamente por este motivo que se recomenda aos pacientes com câncer que procurem um profissional dentista antes mesmo de começarem o tratamento oncológico. Você consegue imaginar o por quê?
Neste texto você vai entender como é a atuação da odontologia em pacientes com câncer e de que forma ela pode contribuir com o sucesso do tratamento oncológico e com a garantia da qualidade de vida do paciente.
Confira alguns dos pontos que serão abordados:
O que é e como surge o câncer
O tratamento do paciente com câncer
O papel da odontologia em pacientes com câncer
Complicações orais ocasionadas pelo câncer
-Mucosite oral
-Xerostomia
-Estomatite
-Candidíase oral
-Herpes labial
Os tratamentos da odontologia em pacientes com câncer
Aparelho ortodôntico x tratamento oncológico
O que você vai conferir!
O que é e como surge o câncer
Segundo levantamento realizado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), instituição filiada à Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um milhão de brasileiros terão câncer em 2040. Já o número de mortes deve aumentar em 95%.
O câncer é uma das doenças mais temidas e uma das principais causas de morte no mundo. O termo se refere à um grupo de doenças malignas que podem surgir em diferentes partes do corpo.
Seu desenvolvimento acontece a partir da divisão contínua e incontrolável de células do nosso organismo. Células que acabam se multiplicando de forma rápida e invadindo tecidos e órgãos vizinhos ou distantes.
A doença pode ser causada por fatores externos, como vírus, radiação e substâncias químicas. Assim como por fatores internos, que envolvem mutações genéticas, condições imunológicas e hormônios.
O tratamento do paciente com câncer
Existem diferentes tipos de tratamento do câncer, portanto, faz-se necessária uma avaliação individual para definição do método mais adequado.
Isso significa que a escolha do tratamento ideal vai depender, entre outras questões, do tipo de tumor, localização, extensão e do estado de saúde de cada paciente.
Apesar disso, os mais comuns são cirurgia, quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea. Eles podem ser realizados tanto de forma isolada, quanto associados.
Saiba mais sobre cada um desses tratamentos:
-Cirurgia oncológica: procedimento cirúrgico com anestesia para retirar o tumor ou até mesmo avaliar a extensão da doença
-Quimioterapia: utilização de medicamentos que se misturam com o sangue para destruir as células doentes e impedir que elas se espalhem
-Radioterapia: adoção de radiações ionizantes para destruir ou impedir o aumento das células do tumor
-Transplante de medula óssea: substituição da medula óssea doente por células normais para reconstituição de uma medula saudável
O papel da odontologia em pacientes com câncer
Ao contrário do que a maioria acredita, muitas das complicações orais que surgem em pacientes oncológicos são decorrentes do tratamento e não da doença em si.
E o desenvolvimento de algumas dessas alterações pode ser, inclusive, prevenido por meio da odontologia em pacientes com câncer. Ou seja, de uma visita ao consultório odontológico.
O recomendável é que o paciente procure o profissional dentista para avaliar sua saúde bucal antes mesmo de iniciar o tratamento do câncer.
Isso porque os exames clínico e radiográfico podem detectar a existência de processos infecciosos e tratá-los pode evitar o agravamento do caso no período de baixa imunológica do paciente.
Complicações orais ocasionadas pelo câncer
O surgimento de alterações bucais entre pacientes com câncer vai depender de uma série de fatores, como o tipo de doença e de tratamento. Todavia, algumas complicações são mais comuns e podem apresentar uma maior gravidade. Confira algumas delas:
-Mucosite oral
A mucosite oral é considerada um dos principais efeitos colaterais do tratamento contra o câncer, sobretudo da radioterapia e da quimioterapia.
Ela é caracterizada principalmente pelo surgimento de feridas na boca, na faringe, no esôfago e áreas relacionadas. Mas também pode resultar em sintomas como dor aguda, ardência, vermelhidão e inchaço.
A mucosite oral ainda pode causar sensibilidade alimentar, dificultar a deglutição, limitar a mastigação e até mesmo a fala, além de aumentar os riscos de infecção.
Dependendo da gravidade do caso, pode ser necessário interromper os medicamentos, o que comprometerá a eficiência do tratamento do câncer.
-Xerostomia
A radioterapia, bem como determinados agentes quimioterápicos, também podem resultar em uma diminuição temporária da quantidade de saliva.
Essa disfunção leva o nome de xerostomia e é mais comum entre pacientes que recebem a terapia para câncer da cabeça e do pescoço.
A produção insuficiente de saliva pode acabar comprometendo a manutenção do pH oral e sua atividade anti-bacteriana.
Com isso, o paciente acaba ficando mais suscetível a infecções e doenças, como a cárie. A xerostomia também pode dificultar a fala e a digestão dos alimentos.
-Estomatite
Representada por pequenas úlceras e inflamações na cavidade bucal, a estomatite é causada por diferentes fatores.
Um deles é o uso de substâncias químicas que acabam causando sensibilidade ou irritando nosso organismo. Os agentes citotóxicos da quimioterapia do câncer é um exemplo.
Pacientes que passam por sessões de radioterapia e que apresentam xerostomia também tendem a desenvolver estomatites.
Além das inflamações na boca, os pacientes podem apresentar febre, dor, vermelhidão, falta de apetite e dificuldades para se alimentar e até beber líquidos.
-Candidíase oral
A candidíase é uma infecção fúngica comum na cavidade bucal, inclusive dos pacientes que se encontram em algum tipo de tratamento contra o câncer.
Ela é ocasionada, basicamente, pela atuação de espécies fúngicas que se beneficiam de alguma doença de base para dar origem à candidíase.
Baixa imunidade, hipossalivação e uso prolongado de antibióticos, corticoides e imunossupressores são alguns dos fatores que contribuem para seu aparecimento.
No caso dos pacientes com câncer, o quadro de imunodepressão transitória acaba contribuindo diretamente para a proliferação desses fungos oportunistas.
Além de ardência na região, a candidíase oral pode provocar dor e dificuldades para engolir alimentos, alteração do paladar, entre outros sintomas.
-Herpes labial
O câncer é uma das condições associadas ao aparecimento do herpes labial, uma infecção viral e contagiada bastante comum causada pelo Herpes-vírus Simples (HSV).
Normalmente contraído na infância ou na adolescência, esse vírus se mantém no corpo humano e reaparece em momentos de estresse ou baixa imunidade.
O herpes labial é caracterizado por lesões orais e bolhas cheias de líquido, que costumam desaparecer sozinhas em torno de 10 dias.
Contudo, em pacientes com câncer, a infecção pode durar mais tempo e apresentar mais sintomas, como mal-estar, febre, inchaço de glândulas e úlceras, entre outros.
Os tratamentos da odontologia em pacientes com câncer
A importância da odontologia em pacientes com câncer faz-se importante não só antes do tratamento oncológico, mas durante e depois também.
Antes, além de ajudar a prevenir complicações, o profissional dentista irá avaliar a necessidade de outras intervenções odontológicas.
Como, por exemplo, tratamentos de cárie, canal, periodontal, exodontias, restaurações, próteses, entre outros.
Durante o tratamento, o odontólogo poderá atuar no diagnóstico e no controle de alterações bucais resultantes das modalidades terapêuticas, como as mencionadas acima.
Lesões orais, como mucosites, aftas e úlceras traumáticas podem ser tratadas, por exemplo, por meio da laserterapia. Já para a herpes ou infecções fúngicas, a terapia fotodinâmica pode ser uma boa opção.
Além dessas, também é muito comum o aparecimento de gengivites, periodontites e cáries, inclusive de radiação – que são as causadas pelo efeito da radioterapia.
Nesta etapa, a odontologia em pacientes com câncer ainda pode ser útil em virtude das orientações sobre uma higienização bucal e dieta alimentar adequadas.
Após o tratamento oncológico, a atuação do profissional dentista faz-se importante ainda para o tratamento de sequelas que por ventura possam surgir.
Aparelho ortodôntico x tratamento oncológico
Algumas pessoas podem ter dúvidas sobre como fica o tratamento ortodôntico quando o paciente recebe o diagnóstico de câncer. Principalmente se é preciso ou não retirar o aparelho antes de iniciar o tratamento oncológico.
Apesar de não ser totalmente contraindicado, o mais comum é que seja recomendada sim a retirada do aparelho ortodôntico, por precaução. Sobretudo se o paciente for submetido à radioterapia ou quimioterapia de cabeça e pescoço.
Essa recomendação se dá principalmente em virtude da sensibilidade das mucosas orais, que muitas vezes apresentam inflamação por conta da radiação. Neste caso, o uso do aparelho fixo poderia agravar ainda mais a situação.
Isso porque, além de dificultar a higienização bucal, o aparelho fixo costuma ocasionar retenção de alimentos e um aumento na formação de placa bacteriana.
Geralmente o aparelho ortodôntico é recolocado somente após o término do tratamento contra o câncer. Em alguns casos pode ser necessário ainda respeitar um intervalo indicado pelo médico, que gira em torno de dois anos.
Conclusão
Como pudemos ver neste texto, a avaliação odontológica é primordial para o paciente oncológico. E, ao contrário do que se imagina, não é somente para os que apresentam tumores de cabeça e pescoço.
A atuação do profissional dentista começa antes mesmo do paciente iniciar seu tratamento oncológico. Nesta etapa, o objetivo é diagnosticar e tratar infecções e inflamações para evitar complicações futuras.
Isso porque, dependendo da evolução e gravidade, algumas doenças podem demandar a suspensão de determinados medicamentos e procedimentos. O que irá comprometer diretamente o sucesso do tratamento.
Durante, a odontologia em pacientes com câncer pode ser útil para minimizar os efeitos colaterais. Assim como para aliviar desconfortos e garantir mais qualidade de vida para o paciente. E depois, é importante para acompanhar e tratar possíveis sequelas.